quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Reflexões sobre a realidade running no Brasil

No que pensava durante os treinos de hoje...
Apesar de novo - mal completei os 28 - tive saudade dos tempos de 20 anos atrás, quando corria ao lado do meu pai. Naquele tempo os verdadeiros corredores "dominavam" os eventos. Não tinha rede social, não tinha relógio GPS ou frescuras como "teste de pisada" e "meia de compressão". Eram bons tempos aqueles.

Creio que somos seres naturalmente nostálgicos. Conheci o running antes do "boom" que fez todo mundo começar a correr no Brasil. Isso é ótimo, não me levem a mal. Mas sabe aquela sua banda favorita da adolescência, que só você conhecia, e de repente tá todo mundo cantando e você sente saudades do passado?

Com a corrida é mais ou menos assim. E aí bate a nostalgia e me torno um pouco ranzinza...

Corredores estão cada vez mais lentos
Em 2015 fui campeão da faixa-etária na Maratona do Rio correndo 2h47. É claro que fiquei feliz de ganhar, mas como amante do atletismo de alto rendimento e dos números, também me deu vergonha. Venci não pela qualidade da minha corrida, mas pela total ausência de competição. Nos anos 80 ou 90 isso não me daria nem pódio... Qualquer - eu disse qualquer - análise estatística simples que se faça constata que no passado se corria muito melhor que hoje em dia. Em qualquer distância. Raros são os que se preocupam em treinar pra valer.

Hoje impera a bobagem do "mais longe é melhor"
A sociedade em geral trata como super-herói quem completa uma Maratona em 5 horas. Salvo raríssimas exceções (de idade e situações extraordinárias), completar uma Maratona em 5 horas não só não é saudável, como esse corredor deveria estar correndo outras distâncias. Infelizmente, hoje impera a lei do "mais longe é melhor", ou seja, o cidadão começa a correr 5, em menos de 1 ano está planejando a Meia e em 2 a Maratona. É claro: o que vale é a foto na Rede Social e o textão de "sou Maratonista". O tempo é o de menos. Uma pena. Em vez de se dedicarem aos desafios de distâncias mais curtas, como superar a si mesmo e tornar-se mais rápido em 5k ou 10k, o que importa é completar a Maratona de qualquer jeito. 

O correr social venceu o correr esporte.
Somos mais lentos, mas mais numerosos. Em geral, corredores se enchem de apetrechos (meia de compressão e mais um monte de frescuras). Muitos se acham elite correndo um 5k para 20 minutos. Outros fazem escola nas Redes Sociais como "gurus das corridas" - mas de running mesmo entendem muito pouco. O que vale é o post no Face, a foto no Insta, o treino do relógio GPS compartilhado. 

O nível do atletismo brasileiro é terrível (no masculino. No feminino descrevo abaixo...)
Em 2016, tivemos apenas 6 atletas correndo 10k abaixo de 30 minutos (e apenas um abaixo de 29). Nos 5k, apenas 5 correram abaixo de 14. Nenhum abaixo de 13:30. Nosso melhor Maratonista correu 2h13... Ou seja, o número de Brasileiros competindo em alto nível internacionalmente nos dias de hoje é ZERO. Estamos em nossos piores dias. Os motivos para isso são muitos (daria uma tese de doutorado...), mas um dos principais é que a gestão do esporte no país é fraquíssima. Não revelamos atletas, e os que revelamos, não se sustentam no esporte. 

No feminino, o nível é "nulo". 
Olhar os rankings brasileiros femininos de 2016 é uma tristeza. É impressionante como temos tão poucas mulheres com tempos competitivos no Brasil. Vivemos de casos isolados: nos 5000m a melhor marca foi 15:54, mas a segunda melhor já é 16:28. Muito, muito longe do alto nível. Ser a segunda do país significa ser uma ótima corredora amadora em outros países. Nos 10 temos uma marca bacana de 32:09 como líder do ranking (deve estar lá pelo número 200 do mundo), mas a marca número 2 é de um impressionante 34:03. Na Maratona acontece fato semelhante. Adriana Aparecida da Silva reina sozinha há anos - em 2016 correu 2h31 (tempo que não a torna competitiva em nenhuma das Maratonas de primeiro e segundo escalão do mundo), e além dela, não temos ninguém. Na verdade, apenas 14 mulheres no país correram uma Maratona abaixo de 3h00 em 2016. Que tristeza...

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