segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Sobre arrogância, fragilidade e cisnes

A arrogância é algo repulsivo, mas quando ela é fruto de alguém que excede todas as expectativas e parâmetros em determinada área do conhecimento ou habilidade, ela se torna um algo mais justificável, até natural.

Fazendo o parâmetro com as corridas, o jamaicano Usain Bolt, o homem mais rápido do mundo, é um mala. A facilidade com que vence as provas e as brincadeiras que faz antes da largada são dissipadas quando se percebe que ele realmente não é desse planeta. Está acima dos mortais.

Um exemplo esportivo mais "brasileiro" e que me veio à medida que escrevo esse texto em meio à propaganda eleitoral, é o ex-atacante Romário, que nunca escondeu sua arrogância, mas fez disso uma de suas armas.

Quando se está muito, muito acima da média, perde-se a noção de arrogância.

O escritor Nassim Taleb certamente me criticaria muito por utilizar essa introdução falando de "médias" para apresentá-lo, pois boa parte do livro "A Lógica do Cisne Negro", que li em 2013, dedica-se a criticar toda a visão do mundo baseada em médias e padrões. Quando um autor dedica boa parte de sua obra a criticar a curva de Gauss... bem, é porque no mínimo ele acredita muito no que está fazendo. Taleb apresenta uma visão de mundo inédita E o apresenta de forma arrogante, demonstrando total desprezo por quem não compartilha de suas ideias. Um mundo dominado por Cisnes Negros, isto é, acontecimento imprevisíveis e de alto impacto, que moldaram a história da humanidade, e que explicam o funcionamento de praticamente tudo. 

Minha opinião final sobre A Lógica do Cisne Negro foi dividida. Ao mesmo tempo que achei o livro ótimo, não o achei suficientemente brilhante para considerar Taleb no seleto grupo das pessoas com direito de serem arrogantes sem se tornarem repulsivas. Assim, não conseguia simplesmente elogiar o livro sem mencionar a repulsa que sentia pelo autor pela forma agressiva com que escreve.

Estou na metade da sequência do Cisne Negro, chamada de Antifrágil. Li o suficiente para dizer que Taleb é mais do que louco, é revolucionário. É um livro capaz de mudar a forma como pensamos e observamos o mundo. É o livro que ele gostaria de ter escrito em "A Lógica do Cisne Negro".a

O anti-frágil é assim chamado por não haver um termo que denomine o contrário de "frágil" - nem pense em dizer termos como "robusto", "sólido" e "inquebrável". E a justificativa de Taleb é plausível. O antifrágil é o oposto de frágil porque se beneficia do caos, exatamente ao contrário, por exemplo, de uma peça delicada de porcelana, que deve ser protegida de qualquer movimentação, o anti-frágil se beneficia com movimentos caóticos. E a questão é que não nos damos conta de quanta coisa no mundo apresenta esse comportamento. E, principalmente, o quanto não estamos preparados para isso.

Escreverei uma resenha futura sobre o Antifrágil. Assim que o terminar, algo que farei nos próximos dias, e deixar que a ação do tempo faça seu papel para uma análise mais adequada. Deve lê-lo qualquer pessoa interessada em temas como probabilidade, risco, caos, tomada de decisão. Mas, por hora, gostaria apenas de dizer que Nassim Taleb agora faz parte do seleto grupo de arrogantes que merecem, devem e até precisam ser assim. Uma arrogância que se beneficia do caos.

Ou, como o autor certamente definiria... uma forma de "coragem intelectual", a "única coisa mais bonita que a compaixão pelo mais fraco".



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