quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Teste de 6 km

Talvez seja pior que competição. Em competição há adversários, disputa, adrenalina. Difícil mesmo é esse tipo de treino. Correr por uma distância pré-determinada pelo seu treinador fazendo o seu melhor e chegando esgotado.

Muitos me perguntam como eu sei desde o início a velocidade em que devo correr para chegar ao limite. 6,000m é muito diferente de 100m, 200m, até 400m, em que simplesmente se pode simplesmente correr o mais rápido que conseguir e não pensar em mais nada.

Como fazer isso por 6,000m? 

Os treinos dizem muito.

Através dos treinos já dá pra imaginar o ritmo que o corpo vai aguentar. Outro fator são os resultados recentes obtidos em competições.

Mas nenhum funciona melhor que esse: eu sei que cheguei perto do limite quando, durante o treino, convenço a mim mesmo que vou ter que parar antes do final.

Foi o que aconteceu hoje.  Durante o teste enganei meu corpo de que iríamos só até 4,000m.

Parecia o máximo que ele iria aguentar. Lá chegando, fiz um novo trato, ir só mais uma volta, quem sabe mais duas. Quando lá cheguei, defini, seria no 5,000m e não teria mais jeito. 

Nesse momento, confesso, já é difícil pensar em alguma coisa. É muito complicado suportar a dor de um ritmo intenso e ação do ácido lático nos músculos. Dói demais. É como estar em uma câmara de tortura. Mas existe algo sublime que, não sei bem definir, é capaz de à essa altura o levar adiante. É inexplicável. Eu não me lembro de ter desistido no último quilômetro, no último tiro. É como se no último fosse você e uma outra dimensão de dor, de raça, de superação.

Quando criança você também brincava de ver com seus amigos quanto tempo aguentava debaixo d´agua no fundo da piscina? (brincadeira meio perigosa, eu sei...)
E então quando você quase não aguentava mais, nadava até o topo com aquela sensação de dor e proximidade do alívio?

A sensação de um teste e de uma competição de atletismo é parecida com essa, mas dura mais tempo. É preciso suportar o "debaixo d'agua" por minutos intermináveis.

Por que fazer isso, perguntam-me. Por que entrar naquilo definido como câmara de tortura, se há a opção de permanecer fora dela?

Só conhece a beleza de permanecer fora de uma câmara de tortura quem já viu o quanto é ruim lá dentro. Da mesma forma que só conhece a sensação de alívio ao respirar novamente ao colocar a cabeça fora da piscina aquele que sofreu lá embaixo. A sensação boa de um copo de água depois de um treino de verão.

E essas pequenas frações de vida refletem ela própria... só conhece a beleza da vida e a alegria de se estar vivo aquele que experimentou a proximidade de perdê-la.

O esporte de rendimento é competição, é força, é luta, é treino, é vontade. Mas também é isso: aproximar-se do limite da vida.

Vai doer. Mas a ausência de dor ao final do espetáculo torna-se muito mais valiosa.

Perdi-me sobre o teste.

Seis quilômetros. Consegui terminar em menos de 20 minutos.

Exatos 19m37s no relógio GPS, mas como fiz em pista de 200m (30 voltas, portanto), o relógio não bateu com a distância da pista, de modo que quando fechou 6 quilômetros no relógio ainda faltavam cerca de 80 metros.

E assim o tempo oficial do relógio nas 30 voltas foi de 19m52s.

Numa escala de 0 a 10, foi 7. Não me impressionou pelo desempenho, mas foi bastante satisfatório. Não acho que esteja ainda em minha melhor forma, mas estou perto. 

Verdade que já estou um bom tempo entre 3m15s e 3m25s por quilômetro. Há cerca de um ano e meio todas as minhas competições do 5 km ao 10 km foram completadas nesse ritmo.

Como queria melhorar mais 5 segundos! Como queria transformar o 3.15-3.25 em 3.10-3.20.

Mas para chegar lá, é preciso de mais treinos, e mais alguns testes como esse.

É preciso aproximar-me do limite mais vezes, de modo a levá-lo onde nunca esteve antes.

E qual é a parte mais difícil de tudo isso? Dormir quebrado e comprometer-se a acordar cedo para pedalar, passar o dia trabalhando, e de noite treinar na piscina. 

Qual o tamanho do seu limite?

Nenhum comentário:

Postar um comentário