domingo, 26 de agosto de 2012

O legítimo atletismo é na pista

Meus amigos corredores de rua - dos quais eu mesmo me incluo - que me desculpem, mas o lugar onde o esporte acontece de verdade é na pista, a oficial, de 400m, de carvão ou sintética. É ali que o ato de correr deixa de ser uma brincadeira, um lazer, e passa a ser um esporte competitivo. É na pista que se formam os heróis olímpicos - e incluo os maratonistas - pois não há campeão nesse esporte que não tenha se formado nos intermináveis tiros de velocidade e resistênca que só a exatidão de cada 400m podem fazer por você.

Muitos dizem que treinar na pista é monótono, pois as voltas se repetem sem a distração da paisagem. Mas é verdade também que ela possibilita ao atleta um conhecimento superior de sua noção de ritmo.

Ninguém compete na pista por pura diversão, prazer, saúde. Pista é lugar que traduz bem o que se propôe esse blog. É lugar de dores e glórias do atletismo.

Neste fim de semana estive em Itajaí competindo nos Jogos Universitários Catarinenses. Pista sintética, uma das duas únicas do Estado, que apesar de mal cuidada oferece condições infinitamente superiores às que temos em Florianópolis.

Minha primeira competição foram os 1,500m.
Pode parecer pouco para alguém com experiência em maratonas. Mas sempre me lembro das palavras de um antigo treinador, que dizia que essa é a prova mais difícil do atletismo. Não é díficil entender o porquê. É uma combinação de resistência e velocidade onde se corre por pouco mais de 4 minutos no limite, com o coração saindo pela boca e o ácido lático dominando completamente seu corpo.
Não é à toa que um bom corredor de 1,500m é um bom corredor de qualquer distância.

Os primeiros 300m são fáceis - gasta-se a energia anaeróbia e em seguida o sofrimento começa. Até por volta dos 700-800m é possível raciocinar. Daí pra frente não se pensa em mais nada, apenas em superar a dor. É difícil manter a coordenação ao abrir a última volta. Mas difícil mesmo é o pós-prova: dói demais. Muita tontura, dor no peito, dificuldade em permanecer em pé, deitado, correndo ou em qualquer posição que seja.

Alcancei minha melhor marca - 4m14s, com passagem de 2m47s nos 1,000m. Foi uma boa prova e a medalha de bronze me deixou feliz já que essa não é minha principal prova.

Após a recuperação depois da agonia pós-1,500m, processo que dura cerca de 30 minutos, inicia-se a preparação psicológica, porque dali a 4 horas correria os 5,000m. Não tão intenso, mas com sofrimento muito mais duradouro e com a musculatura já judiada.

É hora de buscar um novo limite. Apesar do sol e do vento na pista, fui em busca do meu objetivo: me tornar um sub-16 nos 5,000m.

A meta foi viável até a passagem do terceiro quilômetro em 9m35s. Daí pra frente o ritmo só caiu e sofri muito nas voltas finais para terminar em 16m19s. A perna estava muito pesada da prova anterior, e a falta de disputa por posição - longe do primeiro colocado e bem à frente do terceiro - me custaram segundos preciosos. Mesmo assim, fiquei feliz com a marca alcançada e a medalha de prata.

Ao cruzar a linha, desabei no chão, exausto.

Um bom indício de que realmente valeu a pena e que mais uma vez dei o meu melhor.

As marcas me garantem, até o momento, o décimo segundo lugar no ranking catarinense, tanto nos 1,500m quanto nos 5,000m.

`Pistas, pistas... lugares tão sublimes para qualquer atleta.

Lugares tão difíceis e penosos que fazem as ruas parecerem uma brincadeira de correr.

Que bom.

2 comentários:

  1. Cara, realmente quem corre pista, quer correr até o limite, e quando não dá mais, aí sim parte pra rua... parabéns pelas medalhas, o nosso grupo de amigos está bem representado, nos unimos para tornar o nosso esporte cada vez mais forte, mas principalmente nos unimos porque esse esporte proporciona a amizade entre os adversários, obrigado por ser meu adversário Rafa!

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  2. Realmente, pra quem não curti correr, a pista é o verdadeiro martírio! É uma tortura sufocante, mas concordo, necessária aos objetivos de se tornar um atleta. Até pela preparação psicológica.

    Parabéns!! Orgulho. Próxima maratona de NY tu tás o prêmio pra dividir com a gente hehehe

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