segunda-feira, 7 de novembro de 2011
06/11 - A Maratona - Parte II
A primeira milha da corrida passa pela Verrazano Bridge, que liga Staten Island ao Brooklyn.
Acontece que ela se dá numa subida relativamente íngreme.
Como já havia perdido cerca de 01 minuto em que não conseguia correr, forcei o ritmo na subida para recuperar esse 01 minuto;
Passo a primeira milha em 07:18; em seguida, trecho de descida em que efetivamente voei vendo Manhattan ao fundo.
Os proximos 3,6 km eu faço em 12'38; passo a marca de 5 km a 19'56.
A essa altura já havia chegado no Brooklyn. De toda a maratona essa foi a parte mais mágica. A energia do povo nas ruas é algo inacreditável, e juntamente com os últimos quilômetros no Central Park com certeza será minha maior lembrança dessa maratona.
Corri curtindo como nunca e me sentindo um atleta muito especial.
Passo por cartazes escritos como:
"Run like you've stole something
"Run like hell"
"you can do it"
"Pain is temporary, pride is forever".
Além de muitas mensagens particulares a alguns corredores e muitos gritos de Brasil, Itália, França, Usa, etc.
Eu corri e pulei. Gritei Brasil como nunca, e passei boa parte dessa parte ao lado de um brasileiro que, ao passar a meia em 1h25, chegou com quase 5h (pra ver o nível da quebrada dele no final!)
Bati na palma da mão de crianças que a estendiam como se fôssemos heróis, ídolos.
Mal vi os quilômetros passarem.
Mas estava rápido.
Passo a marca das 05 milhas - 8,072 km em 31'49, e as 06 milhas em 38'12 (9,6 km). A marca de 10 km passo em 39'36. A essa altura da prova estava me sentindo muito bem. Subindo e descendo as ruas do Brooklyn e me divertindo com aquele momento mágico de pessoas pelos dois lados.
Meu melhor momento foi mesmo do 10 ao 15. Corri esses 5 km em 19'27, fácil, passando a marca de 15 km em 59'04.
No meio do percurso muitas bandas, e um som de muita qualidade!
Algo que ajudou
A grande reta do Brooklyn termina na oitava milha, isto é, pouco antes do 13 quilometro. Começa então um trecho muito bacana com mais curvas;
Passo a décima milha (16,1 km) em 1'03'21, próximo de 3'57/3'58 por km, ritmo que manti durante todo esse percurso.
Caiu um pouco na subida da 11 milha (6'36), voltou a cair na descida da décima segunda (6'23).
A marca dos 20 km: 1h19'10. A essa altura estava mantendo uma previsão de terminar em 2h47.
O grande divisor de águas da prova foi realmente a ponte que separa Brooklyn do Queens.
E foi um momento muito marcante pois foi a passagem de meia-maratona.
Uma subida muito íngreme que me fez pensar pela primeira vez que estava cansado.
O 21 km eu passo em 3'40, uma passagem bem forte; mas os 100 metros seguintes para fechar 21,1 já passo em 46s devido à forte subida, passando a meia em 1h23'37 e uma previsão ainda de 2h47.
A partir daí a maratona ficou muito mais díficil. Outro momento marcante foi chegar em Manhattan: senti frio na Queensbooro Bridge, pois corria-se por debaixo da ponte, sem sol; é aí que atingo a marca de 25 km em 1h39'54, apenas 06s acima do ritmo de 4 minutos por km. Foi aí que percebi que seria praticamente impossível chegar em 2h48, pois não conseguiria perder apenas 06s até a chegada. Chego em Manhattan já debilitado mas com o ânimo elevado pois já via muita gente nas ruas quando me aproximo da primeira avenida e 16 milha.
Consigo alcança-la em 1h43'06.
A partir daí, uma longa reta pela primeira avenida.
E o ritmo, claro, caindo: na passagem de 30 km, estou com 2h00'45, ritmo já acima dos 4 min/km. Os últimos 12 km eu fecharia a uma média de 04'30 cada km!
Após o final da primeira avenida chegamos ao Bronx. Lá fazemos a curva de retorno a Manhattan, com bandas e crianças especialmente negros como Não poderia ser diferente nesse distrito de Nova York.
É nesse distrito que penso que a maratona finalmente começou ao passar pela 20 milha, o equivalente a 32,180 km. Passo em 2h10'15".
Penso que faltam apenas 10 km. Conseguiria bater a marca do Giba?
Na verdade, estou mais preocupado com as 03h. Mas penso que vou conseguir. Desde a passagem do 30 km que penso nisso. Que penso em baixar de 03h. Penso que está tranquilo: mantendo um ritmo de cerca por 4:50 seria o suficiente, e mesmo bastante cansado estava conseguindo manter uns 30s melhor que isso. É no 30 km que tomo a segunda pílula de cafeína, o que me lembrou até o tempo na França; minhas mãos estão duras! Seria o frio? A falta de sal?
A 21 milha faço em 07'32, e ritmo despencando. É a Madboro bridge, separando Bronx de Manhattan.
Agora, a quinta avenida para a contagem regressiva.
Já enxergo pouca coisa. Já lembro de pouca coisa. Já estou cansado demais. Vejo um parque a frente. Já é o central park? Não, é apenas o pequeno Marcus Garv memorial park. Passo o 35 em 2h22'35, e a 22 milha
Quero a chegada logo! Vamos margeando um parque do lado direito. Agora sim, acho que é o central park! E é mesmo. Passo a 23 milha. Penso que faltam pouco menos que 3 km e estou com 2h31; mesmo que quebre muito fecho abaixo de 3h, penso.
Vejo cada vez mais pessoas.
Há uns 10 km vou correndo muito próximo de uma bela americana de panturrilhas muito fortes e corridas muito coordenada. No central park fica muito nítido o grito de US enquanto corro alguns metros atrás dela. Penso que deve ser uma americana sub-elite.
Mas estou cansado demais para pensar nisso.
Preciso do incentivo das pessoas.
Já não tenho forças para pular, gritar Brasil como no Brooklyn. Algumas pessoas gritam para mim. Não demonstro muita reação. Devo parecer antipático.
Começo a emitir sons de esforço.
Procuro ficar perto do público para que percebam e me incentivem. Ouço um grito de Brasil. Faço uma pequena curva no parque. 24 milhas (2h38).
Estou fazendo cada milha por volta dos 7'30. Estou esgotado.
Mas não vou andar. Treinei muito para isso. Não escuto mais música já fazem uns 5 km pelo menos. Não quero música. Preciso do carinho do público. Preciso da emoção que é correr aqui.
O percurso é muito duro. Mas não deve faltar muito. Não pode faltar muito.
40km. 2h45'05. Estou 05 minutos acima do tempo que queria.
Mas não importa.
Eu só quero chegar.
Continuam os gritos de USA.
Central Park.
Eu passei por aqui no trote de sexta.
Eu estou no lugar onde o mundo todo está correndo.
25 milhas. 2h46'09.
Falta um tiro de 1.500. Quantos desses eu fiz nesse ano?
Não tem como eu não conseguir.
Quero abrir os braços e esboçar um sorriso para comemorar.
Mas a verdade é que é muito cedo para isso. Ainda não consigo.
Quando vejo a placa de 800m, reclamo para mim mesmo. Oh God, achava que faltavam apenas uns 500m.
Não estava preparado para isso.
Mas, logo a frente, aquela curva que para mim já se tornou familiar pelos últimos dias.
É a curva da chegada.
Passo por ela.
E aí eu vejo: faltam 400m.
Avisto as arquibancandas.
Agora sim.
Agora é hora de abrir o sorriso e levantar os braços. Há muitos corredores em volta. Fiquei entre os 500 primeiros, será?
Não importa.
Agora é hora de abrir os braços. Do sorriso. É hora de tornar esse momento para sempre.
Vejo a linha poucos metros da minha frente.
Me posiciono bem ante outros corredores para a foto.
É o sorriso. São os braços abertos.
É o final.
É a vitória.
Após isso, uma longa e inesperada caminhada até a do guarda-volumes. Mas não estou aguentando.
Paro antes para receber tratamento médico. O tratamento é muito atencioso. Médicos, estudantes de fisioterapia e medicina.
Várias pessoas me atendem. Estão preocupados comigo.
Recebo massagem.
Sal.
Estou muito fraco.
Gatorade. Mais sal.
Ameaço levantar, mas ainda estou muito fraco.
Deito de novo.
Peço mais 05 minutos.
Depois, apenas mais um.
Eles são muito, muito atenciosos.
Mas não qero que deixem de atender outros corredores que estão num estado pior.
Essa prova é muito dura.
Vou caminhando lentamente para a área de retirar o guarda volume.
Retiro.
Vou repondo aos poucos as energias.
não consigo encontrar ninguém na chegada. Sento um pouco num banco do Central Park.
Curto o momento.
Estou muito cansado. Decido ir para o Hotel.
Encontro meu novo e grande amigo Douglas.
Após relaxante banheira, estou naquele estado de cansaço máximo, de deitar na cama e dormir em 30 segundos.
Mas vamos ao MC Donalds da Times Square. Depois de dois sanduíches, batata grande e Mc Nuggets, estou recuperado.
Agora é só ligar pra casa e compartilhar as histórias com os maratonistas no hotel.
É o fim de um dia mágico.
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