120 km/semana

Falta pouco mais de um mês para a Maratona de Porto Alegre, e basicamente há somente mais o mês de abril pela frente nos treinos.

Ando lendo muitos blogs e participando de foruns americanos onde basicamente me encho de dois sentimentos:

1) como falta tudo no atletismo brasileiro, da estrutura aos atletas;

2) como meu nível está bem abaixo do que muitas pessoas acreditam.

Sou um bom corredor de nível local - mas somente porque em Florianópolis (e no Brasil em geral) não há estrutura nenhuma e incentivo quase zero para a prática do atletismo. Fosse qualquer cidade americana de meio milhão de habitantes, e eu seria facilmente derrotado por corredores de high school de 15 a 17 anos.

Neste último final de semana houve uma competição universitária na Universidade dos meus sonhos, a de Stanford. Simplesmente 28 atletas correram os 10,000 em menos de 29 minutos. 28 atletas universitários correndo em menos de 29 minutos em uma única competição. No Brasil, um atleta, apenas um, correu essa marca em 2014. Em 2013 foram dois. Nem preciso dizer que eles não são universitários. O atletismo universitário é inexistente no país.

Essa diferença também se reflete nos treinos. É muito comum para os americanos competitivos correrem 100 milhas por semana. Ou seja, cerca de 160 quilômetros semanais. Eu ainda não consigo chegar nesse nível, por dois motivos. Um porque falta tempo. E outro porque é difícil pra caramba correr tudo isso.

A primeira semana de abril foi a 2a semana em que mais corri na vida. Foram 120 quilômetros (cerca de 75 milhas). Número que pretendo aumentar para 130 nessa próxima semana, para 145 na semana seguinte e finalmente para 160 na última semana de abril. O desafio será grande. Como fazer para correr um volume tão grande? As respostas residem em: treinar duas vezes por dia algumas vezes na semana, realizar um treino longo, alimentar-se bem, dormir pelo menos razoavelmente. Organizar bem o tempo.

É importante dizer que não basta sair para correr todos os dias pouco mais de 17 quilômetros em ritmo leve para fechar os 120. Ou cerca de 23 para fechar os 160. Quando se tem um objetivo - e eu tenho o de correr a Maratona de Porto Alegre sub 2-40 - é importante fazer os treinos com muita qualidade. E é isso que deixa difícil treinar em alto volume.

Nessa semana que passou fiz o seguinte:

Segunda

2 km Aq Leve
5 km em 18'20 (ritmo de 3'40 min/km)
12x500m com 30s de intervalo (ritmo de 3'20 min/km)
1 km Leve

treino 2:
45 min de trote leve (8,5 km)

total do dia: 22.5 km

Terça
14 km leves - (12 km em 50'50 ou 4:14 por quilômetro).

Quarta1 km Aq Leve
3 km em 10'40 (ritmo de 3'33 min/km)
15 x 300m com 30s de intervalo (ritmo de 3'05 min/km)
1 km Desaq. Leve

total do dia: 9.5 km

Quinta

treino 1: 8 km leves 

treino 2: 8 km (+ leves ainda)

total do dia: 16 km

Sexta

16.5 km com morros em ritmo moderado

Sábado
treino 1: treino bem intenso, com um 800m para 2'09 e uns tiros de 200 bem fortes. No total foram 6 km. Esse foi um treino além do planejado. Normalmente faria um treino contínuo em ritmo moderado/forte (15 km - 3:45 - 3:50).

treino 2: 7 km leves

total do dia: 13 km

Domingo
29 km (ritmo de 4:20 por quilômetro. Pernas pesadas. Expectativa era fazer 4:10).

Alguns atletas tem o dogma de que é preciso descansar um dia na semana. A verdade é que você precisa descansar quando seu corpo pede descanso. Pode ser uma, duas... ou nenhuma vez. Eu normalmente me sinto bem correndo todos os dias. É importante dizer que dois dias são praticamente de descanso. Terças e Quintas são bem leves. Assim eu descanso somando volume. É possível que nas próximas semanas eu sinta necessidade de descansar sem treinar, e se assim sentir, com certeza farei.

Nos treinos da semana faltou apenas um treino contínuo em ritmo mais forte, para simular o ritmo de prova da maratona (~3:45 min/km). Esse treino (que costumo fazer entre 10~15 km) deverá ser feito na semana que vem.

Meu recorde em uma única semana permanece sendo do período que passei nos Estados Unidos, onde corri 83 milhas em uma das semanas (~133 quilômetros). Se tudo der certo, devo ficar bem próximo desse número nessa próxima semana.

Outra pergunta que me fazem... para que tudo isso?

Bom, a resposta mais óbvia é porque gosto de correr, mas admito que meu desejo competitivo é um maior que a média. Assim faço um alto volume (embora longe dos profissionais do esporte que correm semana após semana entre 180-200 km - o etíope Kenenisa Bekele, que venceu hoje a maratona de Paris, teve uma semana pico de 240 quilômetros) porque quero melhorar, e todas as evidências apontam que um alto volume de treinos contribui para a melhoria do rendimento.

Tive duas semanas ruins antes da Meia Maratona de Florianópolis, uma delas bem gripado, e precisei baixar muito meu volume. Talvez por isso tenha sofrido tanto no final, e tenha ficado àquem do meu objetivo de tempo (~1h13-1h14 - terminei em 1h16).

Tenho muita curiosidade de ver onde posso chegar. Enquanto eu sentir que estou melhorando, ainda que em passos lentos, sentirei que todo esse esforço terá valido a pena.