sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Sobre o doping no atletismo, e meus próprios limites

É fascinante treinar com foco em melhorar a performance. Fascinante porque, quanto mais treinamos, menos treináveis nos tornamos, a medida que nos aproximamos de um limite invisível e desconhecido. Saber que ele existe, mas não a sua localização exata, é o que nos leva adiante. Há um determinado ponto em que treinar se torna uma missão quase inglória de busca por segundos. Você treina, treina, treina... para melhorar alguns segundos - isso se estiver num dia bom, inspirado. 

Ainda acho que tenho muito a melhorar, mas a verdade é que ter feito alguns treinos realmente muito difíceis nos últimos quatro anos e estar correndo uma média próxima dos cem quilômetros por semana há um bom tempo tornam os recordes mundiais ainda mais fascinantes.

Ter uma noção na prática da velocidade com que esses recordes foram feitos, e pensar na dor que o ácido lático deve ter causado, sempre traz a discussão sobre o doping à tona. Afinal, é possível chegar nesses níveis ao natural, diante de anos de treinamento duro?

Quero discutir isso mais adiante, mas antes quero compartilhar aqui os resultados do mundialmente famoso site Let's run, que fez uma pesquisa para identificar a opinião pública a respeito dos recordes mundiais: quais deles foram feitos sobre efeito de doping?

Minha opinião sobre doping, que antes era dividida, foi formada e sedimentada depois de ler o grande livro The Sports Gene. Hoje eu acredito que sim, é possível chegar ao mais alto nível através de uma combinação rara e extraordinária de genes que contribuem para determinada prova de atletismo de maneira quase que milagrosa. Em outras palavras, um processo de seleção natural duríssimo, que só permite que os "the very best" cheguem lá.
Mas e um recorde mundial? Nesse caso não estamos falando de um punhado de atletas de alto nível - mas de um único momento onde é alcançado o que é conhecido como 'limite humano, até que um próximo corredor especial, num dia especial, prove o contrário. A questão é: seriam todos os recordes limpos?

Nesse caso, não posso ser tão ingênuo, e a pesquisa da Let's Run corrobora minha tese que muitos dos recordes foram realizados sob efeitos não-naturais. E, infelizmente, boa parte dos recordes mundiais femininos, com performances simplesmente impensáveis mesmo nos dias de hoje. Mais de 92% dos respondentes acreditam que o recorde de Jarmila Kratochivlova nos 800m (que já dura 31 anos!) foi realizado com doping. Bom, veja o vídeo e tire suas próprias conclusões.

Muita gente (quase 90%) também acredita que a americana Florence Grifith Joyner bateu os recordes mundiais dos 100m e 200m dopada. Dado o absurdo que são as marcas, e que a atleta morreu alguns anos depois de overdose... há pouco a se questionar.

Mas o mais absurdo são os recordes mundiais de atletas chinesas, todos realizados em 1993 nos Jogos Nacionais Chineses... Qu Yunxia (3.50 nos 1,500m), Wang Junxia (8.06 nos 3,000m e 29.31 nos 10,000m). Difícil dizer qual deles é o mais ridículo. Acho que ficaria com o recorde dos 10,000m - a segunda passagem de 5,000m na prova foi de 14'26", o que por si só estaria há apenas 15s do recorde mundial dos próprios 5,000m... E a segunda melhor atleta de todos os tempos tem a marca de 29'54"... 23s atrás, o que é uma eternidade!

Esses recordes do atletismo feminino, infelizmente, deveriam ser todos banidos. Veja mais um exemplo, dessa vez da biônica Marita Koch batendo o recorde mundial dos 400m
Quanto ao masculino, há uma grande diferença: os recordes dos anos 80/início dos anos 90 foram todos batidos, e isso se reflete no resultado da pesquisa. O atleta masculino tido com mais 'dopado' pelos respondentes é o recordista mundial dos 1,500m e da milha (1,609m), o marroquino Hicham El Guerrouj. Diferente dos recordes femininos, os recordes de El Guerrouj sustentam uma boa discussão. Particularmente eu acredito que sim - ele os conquistou sem doping, em condições muito especiais. Veja o recorde mundial da milha, por exemplo. Há uma verdadeira disputa até o fim, não apenas pelo recorde, mas pela vitória na corrida, e isso com certeza é um dos fatores que leva os atletas além do limite.

Usain Bolt (44%), o atleta mais famoso da atualidade, também gera uma boa discussão. Pelo bem do esporte, prefiro acreditar que ele é um talento extraordinário, livre de substâncias ilícitas. Assim como prefiro acreditar na idoneidade do queniano Daniel Komen (39%), provavelmente o mais talentoso atleta de longas distâncias que já existiu - seu recorde dos 3000m é tido, para muitos especialistas, como o 'everest dos recordes mundiais'.

E você, o que acha sobre os recordes mundiais e o doping?

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Voltando ao mundo real, hoje fiz um treino de 4km fortes, para 12'58" (um tempo que seria world class... para os 5 km!). Foi um bom treino, e me senti bem, correndo os quilômetros para 3.15/3.16/3.16/3.10, ou seja, tive uma forte chegada. E não cheguei tão esgotado assim. Resultado dos meus tiros de 1,000 (foram 5 na quarta-feira, com 3 de intervalo, sub 3.10) e 15 tiros de 400 na segunda-feira (entre 1.11 e 1.13 com 1 de intervalo).

Estou próximo do meu auge - mais um mês treinando nesse nível e estarei com certeza no melhor nível que já atingi até hoje.

E ainda praticamente um trote para qualquer recordista mundial...

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